sábado, 25 de maio de 2013

Poscia che tutte...


Poscia che tutte cose termin hanno 
zerchiamo un ben che mai non verrà meno: 
che questo nostro fragile terreno 
è brieve infermo faticoso e vano. 

Lissù non pianto non duol non affanno 
ma di alegrezza sempiterna pieno 
ivi non è nascosto alcun veneno 
che cun falsa dolcezza porti danno. 

Lisù non tema non odio o hamore 
non sperar falso, ma scienza vera 
e buon voler e carità infinita. 

O felice cholui che alza il suo chore 
per tempo al ciel e n' aspetta la sera 
di questa morte che si chiama vita.

Sto. Tomás de Aquino

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A realidade do mal


Recentemente, um amigo muito próximo me liga e pergunta atônito: - Viu o noticiário? Uma mãe matou a facadas o próprio filho; tinha apenas 6 anos! Respondi negativamente e novamente fui interpelado: - Que perversidade! De onde emana tanta crueldade?
Por fim, disse – meu amigo – ainda, que a mãe ao ser questionada por uma jornalista acerca da motivação de ato tão atroz, respondeu candidamente e, ao que aparentava, sem rancor: “Não sei!”.

Perplexo com a noticia e com a aflição do amigo, após desligar o telefone fiquei por instantes refletindo acerca de sua ultima indagação: de onde emana tanta crueldade?
Correndo os olhos sobre um pequeno acervo de recortes que disponho, me deparo com uma nota dolorida, no entanto, tristemente veraz, de um pai que teve seu filho de apenas 20 anos assassinado em uma tentativa de assalto na cidade de São Paulo: “As autoridades e parte da população estão aceitando com naturalidade os assassinatos, a violência nas ruas e a ação dos criminosos” (Jornal da Tarde, edição de 30 de setembro de 1999).

Em seguida, perfilando as páginas do robusto, porém desgraçadamente desconhecido, livro “Crime e castigo: reflexões politicamente incorretas” de autoria do ilustre desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ricardo Henry MARQUES DIP e do então Juiz do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo Volney Corrêa Leite de MORAES JR. (já falecido), encontro uma página em que este último reproduz um inventário de crimes bárbaros, uma galeria de horrores, como denomina o autor, em que a realidade do mal avulta. Cito dois exemplos:

“Um rapaz de 18 anos assassinou um cobrador de ônibus com quatro tiros à queima-roupa no rosto a fim de roubar-lhe o boné. Segundo a divisão de homicídios, o jovem confessou o crime e disse que achara o boné bonito” (Folha de São Paulo, edição de 08 de março de 1997).

“Assaltantes estupram e matam secretária no Rio. Márcia Castro Lira foi morta na frente da filha de 13 anos, também esfaqueada. As duas foram esfaqueadas no pescoço por quatro assaltantes que invadiram sua casa e fugiram” (Jornal da Tarde, edição de 28 de abril de 2001).

Sugiro a leitura do livro especialmente aos penalistas modernos e aos juristas de salão, tão afeitos à arenga laxista, ao malfadado garantismo penal e a ideologia esdrúxula dos famigerados Direitos humanos tal como é concebido segundo os estreitos limites do jusnaturalismo racionalista decorrente do iluminismo, destoante, portanto, do jusnaturalismo clássico como acentuam, entre outros, Michel VILLEY, Juan Vallet de GOYTISOLO, Miguel AYUSO, Danilo CASTELLANO, Juan Fernando SEGOVIA, Ricardo Henry MARQUES DIP e José Pedro GALVÃO DE SOUSA.


Até aqui pende de resposta a indagação formulada por meu amigo: De onde emana tanta crueldade? Uma possível resposta, embora simplista em um primeiro momento, é que o mal existe – contrariando a tese do homem bom por natureza de Rousseau e do famigerado humanismo do bem congênito derivado da mesma tese e que serviu de espeque aos denominados “direitos humanos” -. O mal existe, é uma realidade, como se depreende de um comentário de autoria do escritor argentino Abelardo PITHOD, doutor em Sociologia e Psicologia Social. O comentário se refere aos acontecimentos ocorridos em Coronel Suárez, província de Buenos Aires, onde uma jovem foi seqüestrada, violada repetidas vezes e submetida a torturas e vexames por uma dupla de delinqüentes, o que evidencia até a repugnância que o mal existe e parece não conhecer limites.

Conforme relata o Dr. Abelardo PITHOD, a Bíblia explica o fratricídio de Cain contra Abel, dizendo que o assassino – no caso em questão - fez o que fez “porque era mal”. Os exemplos poderiam se multiplicar para mostrar que o mal existe e que o episódio de Coronel Suárez não se explica de outro modo senão pela realidade do mal. Dois sujeitos, um homem e uma mulher, mantêm uma jovem seqüestrada, torturada, obrigando-a a comer dejetos humanos e animais, até que ela consegue escapar, em um estado de lamentável desnutrição e depressão.

O que motivava estes monstros senão sua paixão pelo mal? O jornalista Jorge LANATA, referindo-se aos fatos de Coronel Suárez, fala de um estado de “possessão”, de gente possuída pelo mal. - “O que é isto senão o inferno?”, se pergunta.
Semelhante a nota emitida pelo pai que teve seu filho seu assassinado a que fizemos menção acima, assevera o sociólogo que há uma espécie de indiferença social em relação ao mal. Mas se o caso de Coronel Suárez e os já referidos não é maldade, como explicá-los?

O mal em suas distintas formas acompanha a história humana. Refletindo sobre este fenômeno – é o que diz o pensador argentino - verifica-se também que embora não possamos erradicá-lo, não podemos dizer que haja mais mal do que bem no mundo. É impossível fazer uma avaliação justa de cada momento e circunstancia, mas não é razoável ser sistematicamente pessimistas, como tampouco sistematicamente otimistas.

Nossa certeza – é ainda a tese de PITHOD - sobre a existência do mal se afasta de ambas as posições, pois, assenta-se na evidencia empírica, experimental, de que o mal existe, como podemos tatear pelos fatos de Coronel Suarez e por tantas outras experiências análogas, como as descritas nos parágrafos iniciais.

Sem embargo, finaliza o ilustre sociólogo argentino, ainda que as notícias dos meios de comunicação não nos deixam olvidar que o mal existe, preferimos ignorá-lo. É um mecanismo de defesa compreensível, mas péssimo conselheiro. Reconhecer que o mal é uma realidade que é preciso enfrentar para não ser vitima de seus enganos é a posição que, ainda que custe - e custa - deve ser um principio irrenunciável da ética educativa.
Frente ao mal não há outra opção senão reconhecê-lo, nomeá-lo por seu nome e combatê-lo.

O mal existe, é uma realidade. Uma realidade que talvez explique o brutal assassinato do jovem Carlos Alberto SACHERI, professor de Filosofia social da Universidade Católica Argentina, compatriota e amigo do mesmo Dr. Abelardo PITHOD, em 22 de dezembro de 1974, publicada nestes termos pelo jornal espanhol ABC:

“Às 10h30min, aproximadamente, após ouvir missa na Catedral da cidade de Santo Isidoro, próxima de Buenos Aires, onde tinha seu domicílio, voltava a este em sua camioneta ‘Ford’, o doutor Sacheri acompanhado de sua esposa, seus sete filhos e mais três crianças, quando no instante em que diminuiu a marcha, para entrar pelo portão de sua garagem, se aproximou um individuo até a janela da camioneta, junto ao volante, sacou uma pistola e colocando o cano junto à orelha de Sacheri fez dois disparos ocasionando-lhe a morte no ato”.

O ódio, o ódio de uma guerrilha marxista ceifou a vida do professor SACHERI, aos 41 anos de idade. O motivo: sua confissão e defesa da fé católica. Como disse o jurista Bernardino MONTEJANO, nos vinte e cinco anos da morte do insigne professor, “os assassinos não conhecem a piedade. Suas ideologias perversas multiplicaram os órfãos, semearam a dor. Sabiam a quem matavam, sabiam as feridas que abriam entre seus familiares e seus amigos, feridas das que conservamos as cicatrizes”.

Tal foi o destino de outros próceres do pensamento católico tradicional da vizinha Argentina, vítimas da escalada terrorista, como Jordán Bruno GENTA e Ermesto Carlos PIANTONI, este último assassinado em Mar del Plata no dia em que nasceu seu terceiro filho: "¡Pobre mi hijito!" foram suas últimas palavras.
Ressalta-se que SACHERI, GENTA e Carlos PIANTONI se encontram unidos em seu último testemunho e em suas razões: confrontaram o risco, o sacrifício, a morte violenta, por amor. Vale para eles as palavras de Antoine SAINT-EXUPÉRY, lembrada por MONTEJANO: “não sei viver fora do amor; não falei, nem agi, nem escrevi mais que por amor”.

Não sei se estas considerações irão satisfazer a contento o meu amigo angustiado, contudo, reputo que não foram despropositadas. O que jamais podemos olvidar como o demonstra a fina inteligência do falecido publicista francês Marcel de la Bigne de VILLENEUVE – tão bem estudado entre nós pelo filósofo Heraldo BARBUY e pelo jurista José Pedro GALVÃO DE SOUSA - em sua esclarecedora obra Satan dans la Cité é que: “O mal nos rodeia e nos solicita por todas as partes, abertamente ou por desvios mais ou menos dissimulados. Não nos dá trégua”. Em outra oportunidade daremos seguimento ao assunto.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Depois da guerra...


Uma das raparigas espreguiça-se e senta-se, com os cabelos ao vento, em cima da barricada. É uma rapariga um pouco pesada, mas é louçã e bonita. Sorri para nós, radiante:
- Depois da guerra, fico nesta aldeia... Uma pessoa é muito mais feliz no campo do que na cidade... Não sabia!
E olha à volta dela, cheia de amor, como que tocada por uma revelação. A única coisa que ela conhecia eram os arrebaldes cinzentos, as idas matinais para a fábrica e a recompensa dos cafés tristes. Todos os gestos que fazem à volta dela parecem gestos de festa. Lá vai ela a saltitar, a correr para a fonte. Sem dúvida tem a impressão de que bebe mesmo no seio da terra.


Antoine de Saint-Exupèry
Um sentido para a vida

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Da tarde morta o murmurar se cala...


A alma, como incenso, ao céu se eleva
Da férvida oração nas asas puras,
E Deus recebe como um longo hosana
O cântico de amor das criaturas.

Do trono d'ouro que circundam anjos
Sorrindo ao mundo a Virgem-Mãe se inclina,
Ouvindo as vozes de inocência bela
Dos lábios virginais de uma menina.

Da tarde morta o murmurar se cala
Ante a prece infantil que sobe e voa
Fresca e serena qual perfume doce
Das frescas rosas de gentil coroa.

As doces falas de tua alma santa
Valem mais do que eu valho, ó querubim!
Quando rezares por teu mano, à noite,
Não te esqueças: também reza por mim.

Casimiro de Abreu